{"id":292,"date":"2014-08-25T21:28:52","date_gmt":"2014-08-26T00:28:52","guid":{"rendered":"http:\/\/www.vemdauva.com.br\/?p=292"},"modified":"2020-10-02T03:43:44","modified_gmt":"2020-10-02T06:43:44","slug":"o-que-e-filoxera-e-como-ela-mudou-a-historia-do-vinho","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.vemdauva.com.br\/o-que-e-filoxera-e-como-ela-mudou-a-historia-do-vinho\/","title":{"rendered":"O que \u00e9 Filoxera e como essa praga mudou a hist\u00f3ria do vinho"},"content":{"rendered":"
Hoje eu vou contar pra voc\u00eas uma hist\u00f3ria muito interessante, de como os Europeus levaram, no s\u00e9culo XIX, um presente de grego das Am\u00e9ricas em suas navega\u00e7\u00f5es – a filoxera, que destruiu a ind\u00fastria do vinho francesa na \u00e9poca, mudando todo o cen\u00e1rio vin\u00edcola at\u00e9 os dias de hoje.<\/p>\n
Por exemplo, voc\u00ea sabia que a maioria dos vinhos franceses que existem hoje prov\u00e9m de plantas de enxertos? Isso significa que a raiz da vinha \u00e9 de uma esp\u00e9cie, e a planta em si (a parte de cima), de outra.<\/p>\n
Voc\u00ea deve estar se perguntando no que tudo isso influencia no vinho que est\u00e1 na sua mesa, certo? Voc\u00ea vai descobrir no final da postagem.<\/p>\n
A ind\u00fastria do vinho como voc\u00ea conhece hoje s\u00f3 \u00e9 poss\u00edvel por causa dessa maravilha simples que \u00e9 o enxerto. Exatamente igual \u00e0quele que a sua v\u00f3 provavelmente j\u00e1 fez com flores no quintal de casa.<\/p>\n
Pra entender melhor essa hist\u00f3ria, voc\u00eas precisam saber a diferen\u00e7a das duas, entre a Vitis Vin\u00edfera e as Vitis Lambrusca. A primeira \u00e9 a esp\u00e9cie de videira de onde saem uvas para a produ\u00e7\u00e3o de vinhos finos, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Carmenere.<\/p>\n
A segunda d\u00e1 uvas excelentes para sucos e para serem consumidas in natura, como frutas mesmo. \u00c9 importante tamb\u00e9m saber que as Vitis Vin\u00edferas tem origem europeia e a Vitis Labrusca, americana.<\/p>\n
A Vitis Labrusca<\/em>\u00a0(americana) tamb\u00e9m \u00e9 utilizada, no Brasil, para a produ\u00e7\u00e3o de Vinhos de Mesa. Os populares garraf\u00f5es de vinho. Tanto tinto, quanto branco. Suave ou seco.<\/p>\n Ap\u00f3s as grandes navega\u00e7\u00f5es, era comum os europeus levarem para a Europa esp\u00e9cies de animais e de plantas que encontravam por aqui. No meio de tudo isso, levaram tamb\u00e9m a Vitis Labrusca, uma esp\u00e9cie de uva americana, mais especificamente da Am\u00e9rica do Norte, s\u00f3 n\u00e3o sabiam que estavam levando junto a filoxera.<\/p>\n A Vitis Lambrusca era resistente a uma praga, mas embora fosse resistente, era portadora da mesma, ou seja, n\u00e3o sofria da doen\u00e7a filoxera, embora abrigasse os bichinhos respons\u00e1veis por ela.<\/p>\n At\u00e9 ent\u00e3o, o continente Europeu estava livre da filoxera, alguns bi\u00f3logos dizem que a coisa ficou complicada mesmo depois dos barcos a vapor \u2013 as navega\u00e7\u00f5es mais r\u00e1pidas faziam com que os bichinhos chegassem ainda vivos a Europa, mesmo com pouco contato com a terra – eles ficam na raiz da planta.<\/p>\n Por volta de 1863, iniciou-se uma grande infesta\u00e7\u00e3o da praga e come\u00e7aram-se as perdas. Os n\u00fameros falam por si:<\/p>\n Para resolver o problema, bi\u00f3logos fizeram enxerto das duas esp\u00e9cies, sendo assim, as uvas passaram a ter a raiz das vitis lambrusca e a parte de cima das vitis vin\u00edferas.<\/p>\n Tal feito foi comprovado eficiente entre 1870 e 1880, embora que com muita descren\u00e7a no in\u00edcio. Muita gente defendia a qu\u00edmica como \u00fanica solu\u00e7\u00e3o para a praga.<\/p>\n <\/a><\/p>\n At\u00e9 hoje ainda existem en\u00f3logos que defendem que o verdadeiro terroir s\u00f3 pode ser percebidos em p\u00e9s-francos, que s\u00e3o os p\u00e9s de Vitis Vin\u00edferas sem o enxerto da raiz das americanas\/labrusca.<\/p>\n Leo Laliman, um dos vitivinicultores franceses respons\u00e1veis pela ideia do enxerto tentou reaver os 320.000 Francos oferecidos pelo governo pra quem encontrasse a cura para a praga, por\u00e9m sem sucesso, autoridades disseram que o enxerto n\u00e3o era a cura, j\u00e1 que ele s\u00f3 deixava a planta resistente a filoxera.<\/p>\n Sendo assim, a maioria das plantas encontradas hoje na Europa \u00e9 de porta-enxertos com ra\u00edzes americanas.<\/p>\n Ou seja, o vinho que voc\u00ea consome provavelmente vem desse tipo de planta. Por aqui o cen\u00e1rio \u00e9 um pouco diferente, h\u00e1 quem diga que 98% dos p\u00e9s de Mendoza sejam de p\u00e9-franco. Infelizmente n\u00e3o consegui encontrar a resposta para afirmar pra voc\u00eas se isso \u00e9 verdade.<\/p>\n Em termos de vitivinicultura, a diferen\u00e7a est\u00e1 apenas no vigor das plantas. A\u00ed voc\u00ea pensa que quanto maior vigor, melhor o resultado, certo? Nem sempre.<\/p>\n Aqui entra a qualidade. As ra\u00edzes americanas v\u00e3o mais al\u00e9m, em profundidade, trazendo maior vigor. Por exemplo, cachos de uvas da mesma variedade, quando em p\u00e9 franco, trazem apenas 1\/5 do rendimento de quanto plantados com enxerto.<\/p>\n Os cachos d\u00e3o menos uvas, consequentemente o vinho ter\u00e1 caracter\u00edsticas diferentes. At\u00e9 o tamanho da folha pode influenciar no resultado final do vinho.<\/p>\n Alguns especialistas afirmam que a Carmen\u00e8re quase sumiu da Fran\u00e7a por causa do enxerto. \u00c9 uma uva muito sens\u00edvel ao desavinho \u2013 perda de cachos durante a flora\u00e7\u00e3o \u2013 o que fez com que este tipo de uva n\u00e3o tivesse sido beneficiado com o vigor que a raiz dos enxertos o traziam.<\/p>\n Sobre a produ\u00e7\u00e3o de Carmen\u00e8re no Chile, alguns dizem que deu certo, pois o sistema de rega era a inunda\u00e7\u00e3o, que n\u00e3o deixava que a filoxera destru\u00edsse as vinhas.<\/p>\n Outros dizem que \u00e9 o terreno chileno que n\u00e3o tem as condi\u00e7\u00f5es que o bichinho gosta. Como tudo no mundo do vinho, os chamados vinhos de p\u00e9-franco ou pr\u00e9-filoxera tamb\u00e9m tem seu mercado.<\/p>\n Talvez o mais conhecido deles seja o Luis Pato Quinta do Ribeirinho P\u00e9 Franco, de Portugal. A safra 2009 custa em\u00a0m\u00e9dia R$ 900,00 a garrafa.<\/p>\n O Chile tem parte importante nessa hist\u00f3ria toda. Com os estragos que a filoxera provocou na Europa e principalmente na Fran\u00e7a, onde voc\u00eas acham que eles vieram buscar plantas saud\u00e1veis? Sim, aqui.<\/p>\n O Chile havia iniciado a importa\u00e7\u00e3o de mudas europeias em 1850, pouco antes da praga da filoxera atacar os lados de l\u00e1, ou seja, as plantas que aqui estavam ainda eram saud\u00e1veis.<\/p>\n Na d\u00e9cada de 1870 o Chile j\u00e1 exportava vinhos e mudas de Vitis Vin\u00edferas para que a Europa pudesse fazer seu processo de recupera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n At\u00e9 hoje n\u00e3o h\u00e1 um agrot\u00f3xico para a filoxera, sendo que a \u00fanica solu\u00e7\u00e3o \u00e9 o enxerto. Para os que ainda tentam fazer a planta\u00e7\u00e3o de p\u00e9-franco, sobra a escolha de terrenos arenosos para diminuir as chances de infesta\u00e7\u00e3o, embora ainda continue exposta a ocorr\u00eancia.<\/p>\n A \u00fanica variedade de uva europeia que se mostrou resistente a filoxera \u00e9 a Assyrtiko, encontrada na ilha de Santorini, na Gr\u00e9cia; contudo, acredita-se que a resist\u00eancia acontece por causa da presen\u00e7a de cinzas vulc\u00e2nicas no solo onde \u00e9 cultivada, e n\u00e3o da planta em si.<\/p>\n Eu, particularmente, acho esse assunto incr\u00edvel. Acho toda a hist\u00f3ria da filoxera interessante, h\u00e1 certa ironia em levar as mudas americanas e vir buscar as chilenas para reconstruir a destrui\u00e7\u00e3o provocada pela explora\u00e7\u00e3o da pr\u00f3pria Am\u00e9rica.<\/p>\n E voc\u00ea, o que acha disso tudo? Ficou com d\u00favidas? Pode comentar aqui embaixo ou mandar e-mail! marcos@vemdauva.com.br<\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Hoje eu vou contar pra voc\u00eas uma hist\u00f3ria muito interessante, de como os Europeus levaram, no s\u00e9culo XIX, um presente de grego das Am\u00e9ricas em suas navega\u00e7\u00f5es – a filoxera, que destruiu a ind\u00fastria do vinho francesa na \u00e9poca, mudando todo o cen\u00e1rio vin\u00edcola at\u00e9 os dias de hoje. Por exemplo, voc\u00ea sabia que a…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":810,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[11],"tags":[],"yoast_head":"\nAgora sim, vamos l\u00e1<\/h2>\n
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A solu\u00e7\u00e3o veio da origem do problema: a Vitis Labrusca<\/h3>\n
Existe diferen\u00e7a dos vinhos de p\u00e9-franco e de enxerto?<\/h2>\n
E aqui no Novo Mundo, a tal filoxera afetou em algo?<\/h3>\n
E atualmente, como anda?<\/h3>\n